terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Texto: Um pé de árvore

"Conheci Criciúma no ano 2000. Fiqui impressionada com os coqueiros plantados em todo o percurso da Avenida Centenário. Fiz essa foto em 2007."
Um pé de árvore

Texto escrito por Ana Lúcia Pintro em 19 de julho de 2006

Olhe para a primeira árvore que encontrar e diga qual é o nome dela. Não sabe? Pergunte para a pessoa que estiver mais próxima. Ela também não sabe? Pergunte às outras pessoas. Ninguém sabe? Então, troque, tente identificar outra árvore. Também não consegue?
Será que vale à pena conversar com mais gente tentando buscar aprender mais sobre esse assunto simples e desafiante? Seus conhecidos estranharam seu questionamento, ao invés, de ficarem surpresos ao descobrirem que não sabem o nome da árvore sob a qual sentam todos os dias durante o intervalo do almoço, ou que cresceu no quintal da própria casa ou ainda, que ornamenta a rua onde residem?
Passe pela praça e observe a beleza de cada planta antes de regressar ao seu lar. Você sentirá dificuldades para explicar aos seus familiares onde exatamente visualizou um ninho porque não sabe dizer: “Há um ninho de tico-tico nos galhos da Tipuana.” Talvez, você saiba o nome da árvore e lhe dêem uma resposta que a coloca de volta à estaca zero: “Nunca ouvi falar que existe árvore com esse nome!”
Você quer informar seu irmão de que deixou seu carro no estacionamento em frente ao hospital, debaixo de uma paineira e se vê forçado a dizer: “Deixei embaixo daquela árvore que solta um algodãozinho.” Se ela não estiver nessa fase, talvez, você diga: “Deixei embaixo daquela árvore que tem uns espinhos no caule”. Na verdade, não são espinhos, são acúleos. De repente, neste dia sua distração e desconhecimento excedam o admissível: “Deixei meu carro embaixo de um pé de árvore.”
Provavelmente você é capaz de escrever o nome de trinta árvores. Imagine que ao entrar num bosque encontrarás todas as espécies descritas e terás que colocar placas identificando cada uma. Conseguirás? Talvez saibas onde está o pinheiro, o eucalipto, o coqueiro e as frutíferas. Porém, na sua lista aparecem cedro, canela, bracatinga, plátano, cangerana, peroba e tantas outras que o deixam confuso.
Quando você começou a falar, seus pais repetiam diversas palavras importantes: papai, água, boi, vermelho, pé, etc. Você fez a mesma coisa com seus filhos, afinal de contas, eles precisavam diferenciar os parentes, os animais, as partes do corpo, as cores e coisas necessárias para a sobrevivência. Por que será que não estão entre elas, grama, seringueira e orquídea?
Somos capazes de citar o nome de diversos animais do continente africano, de inúmeros atores estrangeiros, de carros de todas as marcas, de cantores brasileiros, de elementos químicos, de políticos, de aparelhos tecnológicos e no entanto, nunca perguntamos como se chama aquela árvore alta plantada ao lado da escola onde estudamos por mais de oito anos.
Enquanto ignoramos a presença das árvores, o mundo moderno faz o mesmo conosco. Antigamente, todos se conheciam pelo nome e sobrenome, independente da capacidade de dar frutos ou de pertencer a famílias nobres. Enquanto a tucaneira se transforma em “um pé de árvore”, o número do CPF se torna mais importante que nossos nomes documentos. É assim que o mundo segue!

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