Minhas árvores de estimação
Texto escrito por Ana Lúcia Pintro em 21 de junho de 2006
Tive duas árvores de estimação: um plátano e uma açoita. Ambas eram majestosas, imponentes, transmitiam energias positivas e lindas sob meu ponto de vista.
O plátano cresceu em frente ao antigo pavilhão da comunidade onde morei quando criança. Lembro-me que, sentada à sombra de sua enorme copa sustentada por um tronco curto e grosso, eu ria da vida junto com minhas amigas. Eu o achava poderoso, encantador e imaginava que se pudesse subir pelos seus galhos, viveria a mesma aventura de “Joãozinho e o Pé de Feijão”. Nos sábados à tarde, costumávamos recolher suas folhas espalhadas sobre a grama porque no domingo haveria culto e os adultos queriam o pátio limpo.
Há um plátano ao lado da Igreja São José de Criciúma. No momento, ele está parcialmente escondido pelo tapume colocado na área, devido à ampliação da igreja. Confesso que não fiquei preocupada com o abacateiro e com os flamboyans, quando os meios de comunicação tornaram públicas as discussões sobre a possibilidade de arrancá-los em função da obra que se iniciava. Ninguém falou sobre o plátano, mas como ele está tão próximo das outras árvores, desconfiei que corria risco, também. Um taxista com ponto naquele local, sem saber, tranqüilizou-me naquela época.
Os meus sentimentos podem parecer ridículos às pessoas, dentre as quais me incluo, que convivem num mundo tecnológico, ganancioso e afastado dos elementos da natureza. No entanto, nos dias que eu reservava um tempo para sentar nos bancos da igreja e fazer uma oração, procurava sair pela porta lateral e sentir de perto meu passado através da presença daquela planta especial. Li algo interessante que ajudou-me a compreender minhas saudades: “Os plátanos vivem intensamente as estações do ano. Na primavera, ficam cheios de rebentos e folhas novas de um verde claro, no verão os plátanos ficam frondosos e cheios dando uma sombra apetecível, no outono as folhas tornam-se totalmente amarelas e no inverno perdem toda a folhagem ficando totalmente despidos apenas com o tronco e os ramos. Observar um plátano, é observar o desenvolvimento das estações do ano e, conseqüentemente, o andar do tempo”.
A açoita, era assim que meu pai a denominava, nasceu numa encosta e sobreviveu alguns anos, além de suas conterrâneas, por causa de seu tamanho. Ao redor dela havia uma plantação de milho. Meu serviço era capinar o mato que ameaçava o milharal. Nas horas, em que eu descansava, ficava admirando seus galhos retorcidos, as frestas que apresentavam como pano de fundo o céu azul, as diferenças de tons entre as partes externas e internas da folhas, os musgos suspensos, os cipós dependurados, os passarinhos descansando. Eu desejava ter coragem e força para poder subir até sua copa! O lugar onde suas raízes se fixaram era privilegiado pela visão que apresentava.
Aquele plátano e aquela açoita não suportaram o massacre do progresso. Ele foi arrancado quando construíram um Centro Comunitário de material, com quadra esportiva, cancha de bocha, cozinha e vestiários. Ela foi vendida para uma serraria qualquer e seus pedaços menores queimados num fogão à lenha que também não existe mais.
Haverá o dia que não existirão, também, as pessoas que se recordam dessas árvores. Ninguém fica pra semente... Deveríamos, pelo menos, plantar coisas boas antes de morrer.
Texto escrito por Ana Lúcia Pintro em 21 de junho de 2006
Tive duas árvores de estimação: um plátano e uma açoita. Ambas eram majestosas, imponentes, transmitiam energias positivas e lindas sob meu ponto de vista.
O plátano cresceu em frente ao antigo pavilhão da comunidade onde morei quando criança. Lembro-me que, sentada à sombra de sua enorme copa sustentada por um tronco curto e grosso, eu ria da vida junto com minhas amigas. Eu o achava poderoso, encantador e imaginava que se pudesse subir pelos seus galhos, viveria a mesma aventura de “Joãozinho e o Pé de Feijão”. Nos sábados à tarde, costumávamos recolher suas folhas espalhadas sobre a grama porque no domingo haveria culto e os adultos queriam o pátio limpo.
Há um plátano ao lado da Igreja São José de Criciúma. No momento, ele está parcialmente escondido pelo tapume colocado na área, devido à ampliação da igreja. Confesso que não fiquei preocupada com o abacateiro e com os flamboyans, quando os meios de comunicação tornaram públicas as discussões sobre a possibilidade de arrancá-los em função da obra que se iniciava. Ninguém falou sobre o plátano, mas como ele está tão próximo das outras árvores, desconfiei que corria risco, também. Um taxista com ponto naquele local, sem saber, tranqüilizou-me naquela época.
Os meus sentimentos podem parecer ridículos às pessoas, dentre as quais me incluo, que convivem num mundo tecnológico, ganancioso e afastado dos elementos da natureza. No entanto, nos dias que eu reservava um tempo para sentar nos bancos da igreja e fazer uma oração, procurava sair pela porta lateral e sentir de perto meu passado através da presença daquela planta especial. Li algo interessante que ajudou-me a compreender minhas saudades: “Os plátanos vivem intensamente as estações do ano. Na primavera, ficam cheios de rebentos e folhas novas de um verde claro, no verão os plátanos ficam frondosos e cheios dando uma sombra apetecível, no outono as folhas tornam-se totalmente amarelas e no inverno perdem toda a folhagem ficando totalmente despidos apenas com o tronco e os ramos. Observar um plátano, é observar o desenvolvimento das estações do ano e, conseqüentemente, o andar do tempo”.
A açoita, era assim que meu pai a denominava, nasceu numa encosta e sobreviveu alguns anos, além de suas conterrâneas, por causa de seu tamanho. Ao redor dela havia uma plantação de milho. Meu serviço era capinar o mato que ameaçava o milharal. Nas horas, em que eu descansava, ficava admirando seus galhos retorcidos, as frestas que apresentavam como pano de fundo o céu azul, as diferenças de tons entre as partes externas e internas da folhas, os musgos suspensos, os cipós dependurados, os passarinhos descansando. Eu desejava ter coragem e força para poder subir até sua copa! O lugar onde suas raízes se fixaram era privilegiado pela visão que apresentava.
Aquele plátano e aquela açoita não suportaram o massacre do progresso. Ele foi arrancado quando construíram um Centro Comunitário de material, com quadra esportiva, cancha de bocha, cozinha e vestiários. Ela foi vendida para uma serraria qualquer e seus pedaços menores queimados num fogão à lenha que também não existe mais.
Haverá o dia que não existirão, também, as pessoas que se recordam dessas árvores. Ninguém fica pra semente... Deveríamos, pelo menos, plantar coisas boas antes de morrer.
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