terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Texto: Minhas árvores de estimação

Minhas árvores de estimação

Texto escrito por Ana Lúcia Pintro em 21 de junho de 2006
Tive duas árvores de estimação: um plátano e uma açoita. Ambas eram majestosas, imponentes, transmitiam energias positivas e lindas sob meu ponto de vista.
O plátano cresceu em frente ao antigo pavilhão da comunidade onde morei quando criança. Lembro-me que, sentada à sombra de sua enorme copa sustentada por um tronco curto e grosso, eu ria da vida junto com minhas amigas. Eu o achava poderoso, encantador e imaginava que se pudesse subir pelos seus galhos, viveria a mesma aventura de “Joãozinho e o Pé de Feijão”. Nos sábados à tarde, costumávamos recolher suas folhas espalhadas sobre a grama porque no domingo haveria culto e os adultos queriam o pátio limpo.
Há um plátano ao lado da Igreja São José de Criciúma. No momento, ele está parcialmente escondido pelo tapume colocado na área, devido à ampliação da igreja. Confesso que não fiquei preocupada com o abacateiro e com os flamboyans, quando os meios de comunicação tornaram públicas as discussões sobre a possibilidade de arrancá-los em função da obra que se iniciava. Ninguém falou sobre o plátano, mas como ele está tão próximo das outras árvores, desconfiei que corria risco, também. Um taxista com ponto naquele local, sem saber, tranqüilizou-me naquela época.
Os meus sentimentos podem parecer ridículos às pessoas, dentre as quais me incluo, que convivem num mundo tecnológico, ganancioso e afastado dos elementos da natureza. No entanto, nos dias que eu reservava um tempo para sentar nos bancos da igreja e fazer uma oração, procurava sair pela porta lateral e sentir de perto meu passado através da presença daquela planta especial. Li algo interessante que ajudou-me a compreender minhas saudades: “Os plátanos vivem intensamente as estações do ano. Na primavera, ficam cheios de rebentos e folhas novas de um verde claro, no verão os plátanos ficam frondosos e cheios dando uma sombra apetecível, no outono as folhas tornam-se totalmente amarelas e no inverno perdem toda a folhagem ficando totalmente despidos apenas com o tronco e os ramos. Observar um plátano, é observar o desenvolvimento das estações do ano e, conseqüentemente, o andar do tempo”.
A açoita, era assim que meu pai a denominava, nasceu numa encosta e sobreviveu alguns anos, além de suas conterrâneas, por causa de seu tamanho. Ao redor dela havia uma plantação de milho. Meu serviço era capinar o mato que ameaçava o milharal. Nas horas, em que eu descansava, ficava admirando seus galhos retorcidos, as frestas que apresentavam como pano de fundo o céu azul, as diferenças de tons entre as partes externas e internas da folhas, os musgos suspensos, os cipós dependurados, os passarinhos descansando. Eu desejava ter coragem e força para poder subir até sua copa! O lugar onde suas raízes se fixaram era privilegiado pela visão que apresentava.
Aquele plátano e aquela açoita não suportaram o massacre do progresso. Ele foi arrancado quando construíram um Centro Comunitário de material, com quadra esportiva, cancha de bocha, cozinha e vestiários. Ela foi vendida para uma serraria qualquer e seus pedaços menores queimados num fogão à lenha que também não existe mais.
Haverá o dia que não existirão, também, as pessoas que se recordam dessas árvores. Ninguém fica pra semente... Deveríamos, pelo menos, plantar coisas boas antes de morrer.

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